terça-feira, 28 de abril de 2015

Imperfeição: A Marca de Todos os Perfeitos

Meditações sobre Hebreus 10.14

Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou
para sempre quantos estão sendo santificados.
      Duas coisas são bastante encorajadoras em nossa condição imperfeita
como pecadores salvos.

            Primeira, observe que Cristo aperfeiçoou seu povo, e esse aperfeiçoamento já está completo. “Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”. Ele o fez; e o fez para sempre. O aperfeiçoamento de seu povo está completo, para sempre. Isso significa que os crentes não pecam? Não ficam doentes? Não fazem erros matemáticos na escola? Já somos perfeitos em nosso comportamento e atitudes?

            Neste versículo, há uma razão evidente que nos faz saber que essa não é a nossa situação. Qual é essa razão? É a última frase. Quais são as pessoas que foram aperfeiçoadas para sempre? Aquelas que “estão sendo” santificadas. A ação contínua do tempo presente do verbo grego é importante. Aqueles que “estão sendo santificados” ainda não estão completamente santificados no sentido de não pecarem mais. Do contrário, eles não continuariam sendo santificados.

            Portanto, temos a combinação que nos deixa perplexos: aqueles que Cristo “aperfeiçoou” são aqueles que “estão sendo santificados”. Podemos também pensar nos capítulos 5 e 6 de Hebreus e recordar que esses crentes eram qualquer coisa, exceto perfeitos. Por exemplo, em Hebreus 5.11, o autor sagrado diz: “A esse respeito temos muitas coisas que dizer e difíceis de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir”. Podemos, então, dizer com certeza que “aperfeiçoou”, em Hebreus 10.14, não significa que somos aperfeiçoados a ponto de não pecarmos mais nesta vida.

            O que isso significa? A resposta é dada nos versículos seguintes (15 a 18). O autor bíblico explica o que pretendia dizer, ao citar Jeremias referindo-se à nova aliança, ou seja, que na nova aliança, que Cristo selou com seu próprio sangue, há perdão total para todos os nossos pecados. Os versículos 17 e 18 dizem: “Também de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das suas iniquidades, para sempre. Ora, onde há remissão destes, já não há oferta pelo pecado”. Portanto, ele explica a perfeição presente em termos (pelo menos) de perdão.

            O povo de Cristo é aperfeiçoado agora no sentido de que Deus remove todos os nossos pecados (Hebreus 9.26), perdoa-os e nunca mais se lembra deles como base para condenação. Neste sentido, permanecemos diante d’Ele como pessoas perfeitas. Quando Deus olha para nós, Ele não nos imputa qualquer de nossos pecados — passado, presente ou futuro. Deus não lança mão de nossos pecados, novamente, para usá-los contra nós.

            Agora observe, em segundo lugar, em favor de quem Cristo fez esta obra de aperfeiçoamento, na cruz. Hebreus 10.14 nos diz: “Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”. Você pode afirmá-lo de modo significativo nestes termos: “Cristo aperfeiçoou para sempre aqueles que estão sendo aperfeiçoados”. Ou: “Cristo santificou completamente aqueles que estão sendo santificados”. Isto é o que o autor sagrado realmente diz no versículo 10: “Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas”. Assim, no versículo 10, nós fomos “santificados”. O versículo 14 diz que estamos “sendo santificados”.

            Isto significa que você pode saber que mantém uma posição de perfeição aos olhos de seu Pai celestial, se está se movendo de sua imperfeição presente e se encaminhando em direção a mais e mais santidade, pela fé em sua graça futura. Permita-me dizer, novamente, que, por causa de seu encorajamento para pecadores imperfeitos como nós e de sua plena motivação à santidade, Hebreus 10.14 significa que você pode ter certeza de que permanece perfeito e completo aos olhos de seu Pai celestial, não porque você é perfeito agora, mas exatamente porque você não é perfeito agora e está sendo santificado — sendo tornado santo.

            Você pode ter certeza de sua posição como pessoa perfeita diante de Deus, porque, pela fé nas promessas de Deus, você está se movendo de suas imperfeições hesitantes em direção a mais e mais santidade. Nossa imperfeição remanescente não é uma evidência de nossa desqualificação, e sim uma marca de todos aqueles que Deus “aperfeiçoou para sempre” — se estamos no processo de sermos transformados (2 Coríntios 3.18).

            Anime-se. Fixe seus olhos naquela obra de aperfeiçoamento que Cristo fez para sempre. E resista a todo pecado conhecido.

            Que Deus possa abençoar a sua vida e Família.

            Pr. Dinei Morais
            Igreja Ágape de Atibaia



Extraído do livro “Provai e Vede”- Autor: John Piper – Editora Fiel – Páginas 58-60

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Justificados, mas não perdoados

A diferença entre a ira judicial e o desprazer paternal

                   Como podemos ser justificados pela fé e, apesar disso, precisarmos continuar confessando nossos pecados, todos os dias, para que sejamos perdoados? Por um lado, o Novo Testamento nos ensina que, quando cremos em Cristo, a nossa fé é atribuída como justiça (Romanos 4.3,5-6); a justiça de Deus é imputada a nós (Filipenses 3.9). Em Cristo, permanecemos diante de Deus como pessoas justas, e aceitas, sim, e “perdoadas”, conforme Paulo afirmou: “É assim também que Davi declara [em Salmos 32.1] ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras: Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos” (Romanos 4.6-7). Portanto, na mente de Paulo, a justificação envolve a realidade do perdão.

  Contudo, por outro lado, o Novo Testamento também ensina que o nosso perdão contínuo depende da confissão de nossos pecados. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1.9). Confessar os pecados é uma parte do andar na luz, que temos de praticar, a fim de que o sangue de Cristo continue a purificar- nos de nossos pecados — “Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz... e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1 João 1.7). E Jesus nos ensinou a orar diariamente: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (Mateus 6.12).

  Então, como devemos nos ver em relação a Deus? Todos os nossos pecados já estão perdoados ou são perdoados dia após dia, à medida que os confessamos? A justificação significa que todos os pecados — passados, presentes e futuros — estão perdoados no caso das pessoas justificadas? Há outra maneira de vermos os nossos pecados em relação a Deus?

  Ouçamos, primeiramente, o pastor e teólogo Thomas Watson, que viveu há 350 anos.

  Quando percebi que Deus perdoa todos os meus pecados, entendi que isso se referia a pecados passados, uma vez que os pecados por vir são perdoados somente quando nos arrependemos deles. Na verdade, Deus já decretou o perdão desses pecados. E, quando Ele perdoa um pecado, perdoará, no devido tempo, todos os outros. Mas os pecados futuros não são realmente perdoados até que nos arrependamos deles. É absurdo pensar que o pecado é perdoado antes de ser cometido... A opinião de que os pecados futuros, bem como os pecados passados, são perdoados remove e anula a intercessão de Cristo. Ele é um advogado que intercede em favor de pecados cotidianos (1 João 2.1).

                    Mas, se o pecado é perdoado antes de ser cometido, existe alguma necessidade da intercessão diária de Cristo? Que necessidade tenho eu de um advogado, se o pecado é perdoado antes de ser cometido? Portanto, embora Deus perdoe, no caso do crente, os pecados passados, os pecados vindouros não são perdoados, enquanto não há arrependimento renovado (Body of Divinity, Grand Rapids: Baker Book House, 1979, p. 558).

  Watson está correto?

  Depende. Sim, creio que podemos aceitar esse ponto de vista sobre o perdão, se tivermos em mente, com firmeza, o fato de que o preço, o fundamento e a garantia de todo o perdão (de pecados passados, presentes e futuros) foi a morte de Cristo, de uma vez por todas. A ambigüidade surge com a pergunta: quando obtemos o perdão para todos os pecados que cometeremos? Essa pergunta significa: quando o perdão foi comprado e garantido para nós? Ou significa: quando o perdão será aplicado a cada transgressão, de modo que remova o desagrado de Deus para com ela? A resposta à primeira pergunta poderia ser: na morte de Cristo. A resposta à segunda pergunta: na renovação de nosso arrependimento.

  Isso levanta outra pergunta: Deus sente desprazer em relação a seus filhos justificados? Se isto é verdade, que tipo de desprazer é este? É o mesmo que Deus sente em relação aos pecados dos incrédulos? Como Deus vê os nossos pecados diários? Ele os vê como transgressão de sua vontade, que O entristece e O deixa irado. Contudo, essa tristeza e essa ira, embora motivadas por responsabilidade e culpa autênticas, não é a “ira judicial”, utilizando a expressão de Thomas Watson. “Embora o filho de Deus, após receber o perdão, possa incorrer no desprazer de seu Pai celestial, a ira judicial de Deus é removida. Ainda que Deus possa usar a vara, Ele já removeu a maldição. As correções podem sobrevir aos santos, mas não a destruição” (Body of Divinity, p. 556).

  Deus também vê nossos pecados como “cobertos”, e não como “imputados”, por causa do sangue de Cristo (Romanos 4.7-8). Assim, de um modo paradoxal, Ele vê nossos pecados como portadores de culpa (que causam tristeza e ira) e, ao mesmo tempo, como pecados que já têm o perdão garantido (embora ainda não perdoados, no sentido da reação de Deus à confissão e da remoção do seu desprazer paternal). O que causa a distinção entre a ira judicial de Deus para com os pecados ainda não confessados dos incrédulos e o desprazer dEle para com os pecados não perdoados dos crentes? A diferença é que o crente está unido a Deus, em Cristo, mediante uma nova aliança. A promessa desta aliança é que Deus jamais deixará de fazer-nos o bem e jamais permitirá que O abandonemos, mas sempre nos trará à confissão e ao arrependimento. “Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim” (Jeremias 32.40).
 Este compromisso da nova aliança foi comprado por Cristo para nós (Lucas 22.20) e aplicado por meio da fé, de modo que, embora incorramos no desprazer de Deus, nós, que somos justificados pela fé, nunca incorremos na ira judicial de dEle, por toda a eternidade. Em outras palavras, visto que o perdão de todos os nossos pecados foi comprado e garantido pela morte de Cristo, Deus está plenamente comprometido em trazer-nos de novo ao arrependimento e à confissão, tão frequentemente quanto necessário, a fim que recebamos o perdão e o desfrutemos na remoção do seu desprazer paternal. Nosso Pai se compraz em restaurar-nos à sua satisfação, até que essas restaurações não sejam mais necessárias.


  Deus abençoe.
  Pr. Dinei Morais
  Igreja ágape de Atibaia

Extraído do livro “Provai e Vede”- Autor: John Piper – Editora Fiel – Páginas 54-58

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Você é um descendente do Rei Davi?

Meditações sobre Salmo 18:50 e Isaías 55:3

É ele quem dá grandes vitórias ao seu rei e usa de benignidade para com o seu ungido, com Davi e sua posteridade, para sempre. Farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi.

           
    Respire profundamente e pense sobre o seu lugar no trono do rei Davi, o grande rei de Israel na antiguidade. Os cristãos são realmente os herdeiros das promessas feitas a Davi e aos seus descendentes? Em Salmos 18.50, Davi afirmou: “É ele quem dá grandes vitórias ao seu rei e usa de benignidade para com o seu ungido, com Davi e sua posteridade, para sempre”. Os cristãos podem, três mil anos depois, ler estas palavras e reconhecer que estão incluídos na promessa de vitória e de benignidade?

            Considere Isaías 55. Este capítulo começa com um convite amplo: “Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” (v. 1). Esse convite inclui todos os que virão a Deus famintos, sedentos, arruinados e prontos a satisfazerem-se na graça, em vez de
satisfazerem-se no mundo e nas riquezas. Em seguida, no versículo 3, falando para o mesmo grupo, Isaías disse: “Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi”. Observe: esta aliança é prometida a todos que, famintos e sedentos, vêm a Deus em busca de satisfação. Além disso, esta aliança inclui as “fiéis misericórdiasde Deus prometidas a Davi”.

            Por conseguinte, é verdade que os santos humildes e famintos são os beneficiários das promessas feitas ao rei Davi. Como isso se cumpre três mil anos depois?

            Bem, Deus planejou que as promessas feitas a Davi seriam cumpridas por intermédio de um “Filho de Davi”, que seria o “Ungido” de Deus, ou seja, o Messias (ver Salmos 18.50, citado anteriormente). O trono de Davi seria o trono do universo, e o governo que fluiria desse trono seria eterno — “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz” (Isaías 9.6). Esta foi a mensagem que Deus enviou a Davi, por meio do profeta Natã: “Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; a minha misericórdia não apartarei dele... Mas o confirmarei na minha casa e no meu reino para sempre, e o seu trono será estabelecido para sempre” (1 Crônicas 17.13-14).

            O Novo Testamento proclama que Jesus é este Messias, este “Filho de Davi”. “Eu,  Jesus... Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã” (Apocalipse 22.16). Este era o âmago da pregação dos apóstolos: “Saulo, porém, mais e mais se fortalecia e confundia os judeus que moravam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo” (Atos 9.22).
            E como nós, crentes, nos relacionamos com este “Filho de Davi”, este rei final, em quem agora descansa o governo eterno deste mundo? Em uma sentença rara, Hebreus 2.13 cita o Messias como que proferindo esta mensagem ao seu povo: “Eis aqui estou eu e os filhos que Deus me deu”. Em outras palavras, os seguidores de Jesus, o Messias, o “Filho de Davi”, o rei eterno, são os seus filhos, seus descendentes. Isto é semelhante a Gálatas 3.7, onde Paulo disse: “Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão”. Ou seja, a fé nos une a Cristo, o descendente de Abraão (Gálatas 3.16). E, por meio dessa união, nos tornamos filhos de Abraão e beneficiários das promessas que Deus lhe fez. De modo semelhante, a fé nos une ao “Filho de Davi”, de modo que nos tornamos filhos de Davi e beneficiários de suas promessas.

            Isto significa que Salmos 18.50 se aplica, de fato, a nós. “É ele quem dá grandes vitórias ao seu rei e usa de benignidade para com o seu ungido, com Davi e sua posteridade, para sempre” (Salmos 18.50). Em Cristo, somos a posteridade de Davi. As grandes vitórias são nossas. A benignidade é nossa. As “fiéis misericórdias prometidas a Davi” (Isaías 55.3) são nossas. E, para nos deixar completamente extasiados, o Rei promete: “Ao vencedor, dar-lhe-ei
sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono” (Apocalipse 3.21).

            Deus abençoe.
            Pr. Dinei Morais
            Igreja ágape de Atibaia


Extraído do livro “Provai e Vede”- Autor: John Piper – Editora Fiel – Páginas 51-53